PARA O JULICO LER, MEDITAR, VIVER E DEPOIS RASGAR O PAPEL.

EDSON

BREVE PASSAGEM PELA TERRA

          “Non habemus hic manentem civitatem”, diz S. Paulo, para significar que aqui na Terra não temos sítio duradouro. E assim é. Por outro lado, fomos feitos à imagem e semelhança de Deus, não, decerto, pelo corpo nem pelo que de comum temos com os animais, porém, pelo espírito incorruptível. Daí, dessa união “hipostática”, diríamos, de espírito com o corpo, um sem-número de consectários se desdobram em nossa existência no mundo corpóreo. Daí, entre tais consectários, a continuidade da vida noutro plano, pois que o espírito, responsável pela inteligência, a memória e as faculdades “superiores”, continuará vivo até nosso desenlace. Daqui deste mundo, acreditamos piamente, só levamos as obras que houvemos livremente praticado, vale dizer, somente aquilo que depende de nossa escolha natural e espontânea. Donde, também, uma série de direitos e deveres, entre os quais, o direito a uma vida decente e o dever de moldar um ambiente à nossa volta capaz de conferir aos que nos cercam a possibilidade dessa vida decente. Neste ponto, quer-me parecer, reside a principal decorrência de nossa similitude com Deus. Aqui, precisamente, é o que se me antolha, o dever de comportar-nos como se deuses fôssemos, como se nossa presença importasse, por isso, ainda que com renúncias e sacrifícios nossos, a felicidade dos mais. Pouco importa que os que nos cercam saibam ou não tirar proveito de nossa presença atuante, vibrante, otimista, correta, altruísta, honesta, construtiva, agradável, repoisante, animadora, em síntese, portadora da mensagem divina. Tampouco importa consigamos ou não ter uma tal presença no seio da comunidade humana, desde que, porém, ponhamos tudo, a nosso alcance, para que compareçamos perante outrem com todos esses predicados. Se somos antipáticos, paciência: a intenção era se a encarnação da simpatia; se pesados de problemas, azar: o intento era mostrar leveza, tranquilidade e paz; se inseguros, magoados, obtusos, sem criatividade, conformemo-nos: nossa vontade sincera é a de mostra-nos criativos, esbanjando alegria, mostrando soluções, encorajando, pacificando, compatibilizando, construindo, “humanizando” …

          Mas, se consciente e voluntariamente não lutamos por melhorar o ambiente ou, pior ainda, se este depende de nós e, a despeito disso, concorremos para fazer dele um ninho de neuroses e pressões, então duríssima será nossa carga moral por que teremos de responder perante Deus e perante os homens. Um chefe, um diretor, um gerente, um professor, um treinador, enfim, todo aquele a quem incumbe, por dever de ofício, dirigir a outrem, recebe, com o cargo, a carga de responsabilidade correspondente, vale dizer, se este não trabalhar para a melhoria ambiental de seus subordinados, será culpado de tudo quanto de negativo ocorra a estes. Imperdoável, num chefe, o ambiente neurotizante, pesado, tenso, desfibrante a que submete os seus dirigidos. Gravíssimo erro psicológico de imediatos efeitos morais. Neurotiza e desfibra quem não reconhece o direito legal do dirigido; neurotiza e desfibra quem falseia a verdade em detrimento dos chefiados; neurotiza e desfibra quem se amesquinha e amesquinha aos seus auxiliares diretos; neurotiza e desfibra quem não se detém a meditar no próximo, na família do próximo. Nos dramas que, por omissão de sua parte, desabam sobre chefes-de-família, donas-de-casa, filhos e filhas infelizes, mourejando inutilmente à beira de abismos intransponíveis; sofrendo na carne os resultados da fome, das provações, dos maus tratos; amargando no espírito os ruinosos efeitos de reiteradas frustrações; odiando o mundo e seus potentados; descrendo de Deus e da Verdade; abjurando o bem, declinando das boas obras, refusando a caridade, afastando as forças do otimismo, abafando as intenções de  retidão, sufocando a própria alma…

          Duvido da salvação de quem assim faz e disso se compraz. Duvido da personalidade dos títeres. Ponho em dúvida a própria humanidade desses régulos de satanás, a quem se confiscou a triste missão terreal de infernizar a vida dos que o cercam.

          Abortam todas as realizações de quem é vítima desses tiranos. Aniquilam-se todas as esperanças de quem não lograr sair dos tentáculos desses ditadores. Tornam-se natimortos os sonhos de realizações dos que caíram nas teias desses monstrengos hediondos. Esvaem-se as forças, apaga-se o entendimento, desfigura-se a personalidade, morrem as reações e a capacidade de reagir, de quem teve a desdita de sujeitar-se, por necessidade, aos desmandos (havia de ser “ao comando”) desses “reizinhos do Universo”, megalomaníacos, paranoicos, insensatos.

          É a síntese do que sinto nessa breve passagem pelo mundo dos mortais.

          Ainda bem que a Eternidade nos espera.

Edson Alves

By Jucele

Julio Leal

2020

Encontrei este texto há pouco, notei que é dos mais profundos e verdadeiros dentre os que já li. Uma lição de um Ser Superior.

Não poderia ser diferente, escrito pelo Dr. Edson Alves, um Gênio, Amigo Mor de meu Pai, Julico, e que se dizia meu Tio Torto, era mais. Juntamente com minha cunhada Marilene, corrigiu meus muitos erros na Obra Simples que escrevi: Futebol Arte e Ofício.

Lição para todos! Infelizmente, nossos governantes não leram, disso não sabiam.

Disse em mensagem manuscrita ao lado do texto para seu Julico ler, meditar, viver e depois rasgar o papel. Se Seo Julico não o fez, decerto porque achava importante lição para a humanidade.

Com a Máxima Vênia, Edson. Compartilho com o mundo: leiam, meditem, vivam e depois rasguem. Edson Alves             

Homenageio aqui a Filha do Edson, Marlise Alves.

E a todos os Pais no seu dia: segundo domingo de Agosto (dia10 em 2020)

Edson escreveu repoisante, assim está!

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