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ESTÓRIAS, HISTÓRIA, FATOS, CASOS E “CAUSOS”
23 – CHUPANDO GELO COM PELÉ
Assumir a Seleção Brasileira Sub-17 em 1991 foi um desafio repleto de incertezas e decisões rápidas. O tempo era curto para preparar a equipe visando o Sul-Americano classificatório para o Mundial da categoria, que aconteceria em Termas de Montecatini, na Itália, com jogadores nascidos a partir de agosto de 1974. Herdamos uma pré-seleção montada por Antoninho, especialista de vasta experiência, mas ainda assim pouco conhecida por nós, baseada em observações pontuais pelo território nacional.
O destino nos favoreceu: coincidiu naquele início de ano a realização da Copa Juvenil do Rio de Janeiro, reunindo 64 equipes e oferecendo uma vitrine para observar jovens talentos nascidos a partir de 1973. Divididas em grupos de quatro, as equipes disputavam vagas no mata-mata, o que nos permitiu, junto à comissão, analisar os principais jogos, selecionando para a fase seguinte os clubes e atletas mais promissores.
A missão era clara: identificar, convocar e lapidar os melhores dentro do critério de idade. Exemplos não faltaram. Jardel, destaque do Ferroviário do Ceará, chamou a atenção de nosso olheiro, professor João Carlos Lopes, ao enfrentar quase sozinho o Flamengo. Apesar de sua equipe não avançar, sua atuação garantiu-lhe lugar em futuras convocações, culminando em sua presença na Seleção de Juniores de 1993, já atuando pelo Vasco da Gama.
A renovação do grupo foi criteriosa, com ajustes pontuais e poucas etapas de treinamento, mas o suficiente para garantir não apenas a classificação, mas o primeiro lugar no torneio disputado no Paraguai, abrindo caminho para o Mundial na Itália.
Ao chegarmos em solo italiano, uma notícia especial encheu nossos jovens atletas de motivação: a presença do Rei do Futebol, Pelé, garoto-propaganda do evento e figura que transcendia gerações. Por intermédio de um contato próximo, organizamos uma palestra surpresa para o elenco Sub-17. A condição era o absoluto sigilo — nem aos jogadores revelamos o encontro, respeitando o pedido do próprio Pelé.
E assim, sem alarde, o hotel se viu cercado desde as primeiras horas da manhã por fãs de todas as idades, ansiosos pelo vislumbre do ídolo, que chegou em sua limusine e, com humildade e generosidade, cumprimentou a todos. No salão, cadeiras em círculo aguardavam, um lugar vazio reservado ao Rei. O impacto de sua presença foi imediato: sua aura, comparável à de líderes espirituais, cativou a todos.
O discurso de Pelé foi mais do que inspirador. Ao relembrar suas conquistas, especialmente o título mundial de 1958 conquistado ainda jovem, enfatizou que futebol ultrapassa técnica e tática; é ambiente, é união, é força coletiva. Para ilustrar, protagonizou uma metáfora poderosa: pediu ao mais forte do grupo, Argel, que tentasse rasgar um catálogo telefônico ao meio. Após tentativas frustradas, Pelé pegou as páginas e, uma a uma, foi rasgando facilmente, demonstrando como a união faz a diferença e como cada peça isolada é frágil, mas juntas são invencíveis — a essência da sinergia.
O legado da palestra ficou gravado para sempre na memória dos jovens atletas. A seleção, fortalecida pelo exemplo do Rei, seguiu com espírito de grupo renovado. Lutamos bravamente nas quartas de final, mas acabamos superados por Gana, em um duelo tenso e decidido por detalhes, sob ambiente adverso e torcida local inflamada. Não obstante a derrota por 1 a 0, os ensinamentos do Rei ecoaram por toda a vida dos presentes.
Dois anos depois, o destino reservou à nova geração brasileira o reencontro com Gana, agora na final do Mundial Sub-20 de 1993, na Austrália. Com elenco renovado, atletas de 18 e 19 anos, o Brasil superou os adversários por 2 a 1 e conquistou seu terceiro título na categoria — somando-se às conquistas de Jair Pereira em 1983 e de Gilson Nunes em 1985, consolidando um ciclo vitorioso iniciado anos antes.
A trajetória daqueles anos, repleta de histórias, dificuldades, aprendizados e glórias, está registrada em meu livro “Futebol Arte e Ofício”, lançado em 2000. Hoje, só encontrado em sebos ou na Amazon, o registro é um tributo a todos os gênios que tive o privilégio de presenciar, liderados por Pelé, eterno Rei do Futebol, cuja simplicidade e ensinamentos marcaram gerações e continuam inspirando quem acredita na verdadeira força do coletivo.



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By Jucele
Julio Leal
CAMPEÃO MUNDIAL UNDE 20 EM 1993, NA AUTRÁLIA. BRASIL TRICAMPEÃO
30 de julho de 2025