PARTES PREFERIDAS DO LIVRO FUTEBOL ARTE E OFÍCIO – 6: MÉTODO DE TREINAMENTO – ESTRATÉGIA – TÁTICA

PARTES PREFERIDAS DO LIVRO FUTEBOL ARTE E OFÍCIO

A PARTIR DA PÁGINA 93

SEGUNDA PARTE –
DO OFÍCIO

CAPÍTULO VI

MÉTODO DO TREINAMENTO

Por método entendemos o conjunto de atividades e procedimentos utilizados para alcançar os objetivos propostos.

No Futebol, são inúmeros os meios e procedimentos utilizados, por não haver uma metodologia geral que, pela prática, levasse a um único método mais adequado à nossa realidade.

O desenvolvimento do treinamento no Brasil deu–se de forma mais ou menos empírica, mormente no Futebol, atividade que a obrigatoriedade, pela Lei (tanto a 3199, de 1941, quanto a 8650 de 1993) a que jamais se obedeceu, poderia ao menos homogeneizar os Métodos de Treinamento de Futebol.

Mesmo entre os Treinadores e Professores de Educação Física, egressos das Universidades, não há uma forma–padrão para o desenvolvimento do treinamento, pois nosso País com suas dimensões continentais, possui muitas variações quanto à biotipologia, condições climáticas, hábitos alimentares etc.

O método que temos como recomendável é aquele que os estudos, as observações e a prática nos convenceram de ser capaz de, ainda em curtos espaços de tempo, alcançar os melhores resultados.

Baseado em experiência com jogadores de todas as idades, concluímos que um método eficiente deve valer-se de todos os meios auxiliares audiovisuais (quadro-negro e quadro-branco, campo imantado, eslaide, transparência, fotografia, filme e, na moderna era da telecomunicação, o computador).

O método engloba todos os segmentos da preparação: física, técnica, tática e psicológica. Motiva os Atletas de forma consistente e particular a que, pelas suas crenças e religiosidade, busquem o bem- estar espiritual.

Na prática, o método deve obedecer aos processos didáticos, seguindo sempre o caminho natural para o aprendizado, do mais simples para o mais complexo.

Os 3 (três) passos fundamentais:

  1. Exercícios introdutórios;
  2. Exercícios avançados;
  3. Exercícios competitivos.

Procedimentos de gradual desenvolvimento na prática:

  1. Individual;
  2. Em dupla;

3. Em grupos (pequenos ou grandes);

  • Com times.

De acordo com a atividade:

  1. Prática dos fundamentos técnicos;
  2. Jogos em campos reduzidos;
  3. Jogos condicionantes;
  4. Jogos coletivos em campo oficial (11
    x 11);
  5. Prática da preparação física (utilizando as corridas contínuas,
    as corridas intervaladas, os treinos em circuito, o Fartlek e suas variações, o
    Cross–Country, os multi-saltos, os pliométricos, além das sessões técnicas e
    táticas);
  6. Prática da preparação psicológica.

Todo o trabalho deve ser dividido em Fases, estas em quadros de trabalho semanal (QTS) e estes, em planos diários.

ESTRATÉGIA

Em sentido amplo, estratégia é planejamento visando a atingir determinado objetivo, explorando os fatores favoráveis e usando os meios disponíveis, quando, onde e como quiser.

A estratégia futebolística, não fugindo ao conceito geral, adota a mobilização, a concentração, o reconhecimento, as coberturas, perseguições e meios outros, tendo em vista a vitória final.

A preparação para o jogo ou para a competição é item dos mais importantes no planejamento estratégico e sua execução.

Fundamental para o êxito no trabalho de preparação de equipes de futebol para competições esconder do adversário as táticas e estratégias, bem como, mediante um bom serviço de espionagem e observação de treinos e jogos saber do adversário a estratégia e as táticas, o que acarreta grande vantagem.

Exemplo clássico, a história dos cavalinhos: possuo no meu haras três cavalos de corrida, um bom, um regular e um fraco. Outro proprietário de haras também possui três cavalos, sendo um bom, um regular e um fraco, os quais, de fato, equivalem aos meus três. Corridos três páreos, em condições normais e aleatórias, a tendência é de empate, podendo ocorrer, entretanto, vitória de um ou de outro. Utilizando meu serviço de inteligência e espionagem, se souber a ordem de entrada dos cavalos adversários nos três páreos, vencerei sempre por dois a um, bastando que coloque o meu mais fraco para correr com o mais forte do outro haras, o regular contra o fraco oponente e, por fim, o bom contra o regular.

Exemplo de estratégias a utilizar: marcar em cima no começo, atrair para contra-atacar, defender-se para garantir resultado, distribuição do tempo de marcação: campo todo por 20/25 min, voltando à normal e intensificando outra vez nos 10 min finais.

TÁTICA

    Tática significa o planejamento e a execução racional de dispor jogadores em campo, para sair-se bem e tirar proveito em dada situação, surpreendendo o adversário e dominando-o, em conseqüência.

A Tática é a direção real e particular das operações, a organização, direção e execução da mobilização, concentração, reconhecimento etc.

Para que a estratégia funcione bem e tenha êxito, táticas adequadas e convenientes são condições indispensáveis, assim como um bom planejamento estratégico das operações.

Estratégia e tática são fundamentadas sob os mesmos princípios: objetividade, segurança, ofensividade, superioridade numérica, economia de forças, simplicidade, coordenação e surpresa.

Para cada situação previsível de jogo, uma equipe bem orientada deve possuir e aperfeiçoar, no mínimo, uma tática, para obter a vantagem por meio do conhecimento antecipado do que tem de realizar. Acima de tudo, conseguir resultados positivos pela possibilidade de infinitas repetições da manobra pré-concebida, buscando a perfeição.

Uma equipe bem preparada, além da liberdade de criação, deve guardar um variado buquê de jogadas táticas ensaiadas.

Em primeira instância, essas táticas devem ser básicas, pela simplicidade, quantidade de elementos e de jogadores envolvidos e estritamente de acordo com as possibilidades físicas, técnicas, táticas e psicológicas dos atletas abrangidos na trama.

    Numa segunda fase, quando as táticas básicas já estiverem funcionando a contento e nos casos em que os adversários dêem mostras de conhecê-las, afastando o elemento surpresa, talvez, o mais importante de qualquer tática, colocam-se em prática, então, as Táticas Derivadas ou Variáveis. Essas devem, se possível, ter posicionamento e movimentação inicial igual ou semelhante à Básica, mas com alterações a partir de certa fase da execução. Após dado a entender que seria repetida a tática básica que o adversário já conhece, surpreendentemente define-se a jogada na concepção variada, inesperada pelo oponente, para alcançar o objetivo pretendido.

    As Táticas Derivativas podem ser muitas, com diferentes níveis de complexidade, e incluídas gradativa e didaticamente no Programa de Treinamento, adequando-se à fase de preparação.

Exemplo: Em cobrança de falta próxima à área, três jogadores colocam-se em condições de efetuar o tiro livre, um com a perna esquerda, um com a perna direita, e outro colocado de frente para a bola para um chute forte. A primeira opção, tentando sempre dissimular é a cobrança pelo que possui melhor ângulo, de acordo com a colocação do goleiro. A segunda opção é o de melhor ângulo passar sobre a bola e outro jogador executar o tiro livre.

    Além das táticas básicas para cada situação de jogo e de ao menos uma variável para cada uma, a equipe deve incluir no seu repertório Táticas Alternativas, de concepção diferente da tática básica desde o primeiro passo, mas com o objetivo de surpreender o adversário e obter uma nítida vantagem.

Exemplo: Em cobrança de falta próxima à área, os mesmos três jogadores se colocam, mas a jogada básica é alterada e aquele que cobrava, passando sobre a bola, fintando, dá um toque permitindo que o segundo ou o terceiro, de forma surpreendente, efetuem a cobrança.

    As Táticas podem ser Defensivas e Ofensivas:

DEFENSIVAS – são todas aquelas que visam a manter a incolumidade da própria baliza, evitando riscos, perigos e gols.

Posição básica, antecipação, mesmo tempo, triângulo defensivo, losângulo defensivo, bola dominada pelo adversário, retardamento do ataque oponente, compactação, coberturas (simples e duplas), linha de impedimento, bloqueio dos avanços pelas laterais, na frente da área, evitando a progressão pelo corredor central, – empurrando para os lados, posicionamento em córneres defensivos, faltas defensivas, pênaltis contra, posse de bola, barreira etc.

OFENSIVAS – são todas aquelas que visam a surpreender, dominar e superar a equipe adversária conquistando gols e a vitória.

Ataque de 2 (dois), 3 (três), 4 (quatro), 5 (cinco), 6 (seis), 7 (sete), ataques pelos médios, pelos laterais, com lançamentos longos (ligação direta), contra-ataques, criação de espaços e aproveitamento dos mesmos (ponto futuro), triangulações, ultrapassagem (“over lapping”), tabelas simples e compostas, mudança de frente de jogo, contra-tática para livrar-se da linha de impedimento do adversário, posse de bola, faltas, pênaltis, córneres, arremessos laterais, bola-ao-chão, início e reinício de jogo, etc.

    As táticas, podem ainda, ser vistas sob 2 (dois) outros aspectos: bola em jogo e bola fora de jogo.

TÁTICAS COM BOLA EM JOGO – Todas as ofensivas e defensivas com a bola em movimento.

TÁTICAS COM A BOLA FORA DE JOGO – Todas as ofensivas e defensivas a partir da bola parada (arremesso lateral, bola-ao-chão, córner, falta direta e indireta, início ou reinício de jogo, pênalti, tiro-de-meta).

PREPARAÇÃO TÁTICA

    A preparação tática visa a enfatizar as características e potencialidades dos jogadores, coordená-las e harmonizá-las, praticando, à exaustão, tudo voltado e dirigido para o planejamento tático a adotar.

    Seu desenvolvimento está associado à condição física e técnica, ao nível de compreensão do jogo em foco e à experiência dos envolvidos. Esses elementos constituem o alicerce da sua aplicação.

    De acordo com a Metodologia do treinamento, a preparação tática deve obedecer aos 3 (três) passos principais:

a) INTRODUTÓRIOS (iniciais) – Deve-se evolver do mais simples ao mais complexo e ensinado/aprendido a partir de simulação em quadro negro ou outro meio áudio-visual: eslaide, vídeo, transparência, fotografia, campinho magnético e computador, passando então à prática no campo, sem oposição e em baixa velocidade, aumentando a velocidade ou o grau de dificuldade, de acordo com as respostas e a evolução dos jogadores.

    Por exemplo: um time com 11 (onze) atletas jogando somente contra o goleiro, para trabalhar a posse de bola e a evolução desde o setor defensivo, passando pelo meio-campo, até a assistência e a finalização preconcebidas, usando inversões de frente de jogo. Bola jogada no chão com passes rasteiros e sem parar.

b) AVANÇADOS (intermediários) – Após o primeiro passo, aumenta-se o grau de complexidade e dificuldade na execução pelo aumento dos elementos envolvidos, pela aceleração na velocidade, ou pelo grau maior de oposição com a entrada de oponentes funcionando como sombra, isto é, com ação figurativa e de intensidade moderada, deixando fazer. Pode-se experimentar sua viabilidade durante treinos táticos, treinos coletivos de jogo (11 x 11) e em jogos-treino (contra equipes convidadas, com uniforme de treino, duração e características adaptadas à fase de treinamento, geralmente sem árbitro oficial), ou em jogos amistosos (estes, com as regras seguidas à risca, contra adversários qualificados, uniforme de jogo, árbitro oficial e súmula).

    Por exemplo: um time com 11 (onze) jogadores pelejando contra outro que conta com goleiro, 4 (quatro) defensores e um volante de proteção à defesa, com o objetivo de, saindo desde a defesa o time com 11 (onze) trabalhar a posse e o jogo ofensivo, tocar a bola e mudar a frente de jogo, passando com ela dominada pelo meio-campo e chegando ao ataque, para conseguir uma posição de assistência e finalização, mas recebendo uma oposição moderada da equipe oposta, grupo de 6 (seis). Bola rolando no chão em passes rasteiros. Nem bola nem jogador podem parar. Dois ou três toques, no máximo.

c) COMPETITIVOS (avançados) – Considerando o progresso e o aperfeiçoamento nas fases introdutória e avançada, passa-se ao grau máximo de complexidade e dificuldade, com grande oposição, ativa e cerrada, e velocidade igual ou superior à possível de ser utilizada no jogo oficial.

    Utilizados eventualmente nos jogos-treino, nos jogos amistosos, e passíveis de utilização nos jogos oficiais desde que atingidas boas possibilidades de acerto.

    Por exemplo: uma equipe com 11 (onze) futebolistas, jogando contra outra com 11 (onze), 12 (doze), e até 13 (treze) ou 14 (quatorze) jogadores, com o objetivo de, saindo da defesa, trabalhar a posse de bola e, com ela sob domínio, passar pelo meio do campo, com passes e inversão de frente de jogo até a zona de ataque, para possibilitar assistência e finalização. Evidentemente, treinando-se contra até 14 (quatorze) oponentes, o trabalho torna-se muito difícil e mais complicado. Quando se vai jogar contra o número oficial de 11 (onze), a tarefa fica facilitada, os jogadores sentem-se mais à vontade, soltos, e confiantes, como se houvesse mais espaços para jogar. Bola jogada no chão, em passes sempre rasteiros, bola e jogador não param, aquele que executa o passe ultrapassa em velocidade aquele que recebe (“overlapping”), e o gol só é válido quando todos os jogadores estiverem no campo adversário, bem como valem 2(dois) pontos quando o adversário marca o gol e algum atacante não voltou à linha média.

    A preparação tática deve estar em perfeita sintonia com a preparação física, adequando a intensidade do treinamento à fase da preparação, em que os jogadores e o time se encontram. Por exemplo, se a equipe estiver no primeiro estágio de preparação geral, os exercícios táticos também devem obedecer aos mesmos princípios: básicos, de grande volume e em baixa intensidade.

 De nada adianta um belíssimo planejamento tático ou concepções mirabolantes, se as
condições físico-técnico-tático-psicológicas dos jogadores não estiverem ao
nível da proposição.

Técnica – é o conjunto de fundamentos básicos que diferencia o futebol dos demais esportes, cuja particularidade está, principalmente no uso dos pés e pernas para executar as ações para defender, manter a bola e atacar, para marcar gols.

A técnica é impessoal, comum a todos, e formada pelos fundamentos técnicos.

Estilo é a forma pessoal, própria e característica de realizar uma ação.

By Jucele

Julio Leal

Campeão Mundial Under 20 na Austrália em 1993

25 de março de 2025


2 comentários Adicione o seu

    1. Avatar de Julio Cesar Leal Julio Cesar Leal disse:

      Merci!

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