Carta ao Dr. João Havelange com opinião sobre “Experimentos nas Regras XI e XII” no Mundial U.17 em Termas de Montecatini, Itália, em 1991

Ilmo. Sr.

Presidente da FIFA

Doutor João Havelange

Em atenção à sua gentil solicitação de uma avaliação dos experimentos nas Regras durante o I Campeonato Mundial U.17 de Futebol, realizado na Itália, em 1991, nos manifestamos.

Quanto à alteração da Regra XII: “em qualquer ocasião quando um jogador passa deliberadamente a bola para seu próprio goleiro, então o goleiro não pode tomar a bola com suas mãos.” Estou certo de que sua aprovação e imediata inclusão no Texto das Leis do Jogo trará enormes benefícios aos jogos de Futebol, pois certamente tornará as partidas mais bonitas, por exigir, mesmo dos zagueiros e goleiros mais atenção, melhor posicionamento e uso dos recursos técnicos, mais emocionantes pela possibilidade de os atacantes marcando os zagueiros adversários tentando tomar-lhes a bola numa zona de perigo de gol, sem que estes tenham a salvadora ajuda das mãos dos goleiros; e, principalmente, que o tempo de bola efetivamente em jogo crescerá muito, aumentando, portanto, as chances de as equipes traduzirem em gols este tempo de bola em jogo acrescido.

Sugiro, ademais, que o texto aprovado seja claro e incisivo, não dando margem a interpretações como a da Comissão de Arbitragem do Campeonato que aceitou que a bola pudesse ser atrasada às mãos do goleiro por passe de cabeça ou peito.

Penso que exceto involuntariamente, a bola não pode ser passada com qualquer parte do corpo às mãos do goleiro, nem tampouco o golquíper possa usar as mãos após receber a bola, passada com qualquer outra parte do corpo. Se optou por jogar com os pés ou cabeça deve seguir jogando como jogador de linha.

Durante o período de treinamento e o de competição não ocorreu uma só vez que os meus jogadores de defesa, necessitassem utilizar-se do recuo de bola aos goleiros. Somente no jogo de abertura, USA x ITÁLIA, o arqueiro americano, em bola recuada rasteira pelo zagueiro, ao invés de dominá-la com os pés e jogar, pegou-a com as mãos e foi punido com tiro-livre indireto.

Quanto à alteração na Lei do Impedimento, proposta em caráter experimental na Regra XI: as linhas atualmente traçadas paralelas às linhas dos gols e a uma distância de 18 jardas do gol serão estendidas até se juntarem às linhas laterais de cada lado do campo. Um jogador não será declarado impedido por um juiz se no momento em que a bola é passada a ele por um companheiro de equipe, ele esteja a mais de 18 jardas da linha de gol adversária (toda a linha de fundo). Penso que demanda novos períodos de experimentação e, principalmente numa competição de longa duração como um Campeonato, com equipes profissionais e adultas, quando então se poderá avaliar com mais precisão os resultados.

Pelo que vi neste período de preparação e de competição, penso que a alteração experimentada pode trazer benefícios ao Futebol tornando-o mais ativo, dinâmico e corrido, com mais chances de gols, portanto, mais emocionante e atraente.

Não detectei desvantagem, exceto pelo nível de compactação que não depende só da vontade de aproximação dos atletas de um mesmo time, mas também do posicionamento e distribuição dos adversários. Caso um time deixe um jogador perto da linha das 18 jardas, natural que o adversário deixará para guarda-lo ao menos um jogador seu, se a equipe deixa 2 ali avançados e não impedidos, lógico que a precaução leva a deixar ali 2 defensores. Em muitas situações criou-se uma figura de 5 x 5 na entrada de uma área, e 5 x 5 na outra. E na retomada da bola, o jogador com a pelota corria até a outra área, o que não era bonito.

Vi na competição sob o experimento em questão que o jogo fica mais corrido de área a área, quase sempre 5 x 5, ou perto disso, com muitos espaços para a equipe que ganha a posse da bola progredir, e com dificuldades para os jogadores de defesa se cobrirem mutuamente por se colocarem mais afastados do que sob as Regras tradicionais em vigência e, portanto, aumentando as emoções do jogo, as jogadas individuais e os dribles em sequência, tão belos, hoje tão raros.

Percebi, também, que a distribuição dos jogadores pelo campo altera-se, dando margem a conjecturar que novos Sistemas de Jogo e as Táticas surgirão, à semelhança do que ocorreu em 1925 quando a Lei do Impedimento foi alterada. Também as características individuais se modificarão em todos os setores do campo, mas principalmente as dos meio-de-campo e as do ataque.

Diria que é possível que as alterações sejam tão profundas, que caberia nova etapa de experiências para que se tenha a certeza de que os objetivos que a FIFA pretende com a inovação quais sejam: jogo mais solto, leve e bonito, mais emoções a até mais gols, menos violência e etc… seja efetivamente alcançado, sem riscos de mais tarde ser necessário voltar à forma anterior.

Estimado Senhor Presidente da FIFA, Doutor João Havelange, estas são minhas impressões sobre o que vi, experimentei e senti quanto aos experimentos nas Regras XI e XII das Leis do Futebol.

Honrado em receber sua solicitação, aqui me despeço fazendo votos de saúde, paz e felicidade!

Atenciosamente,

Em 10.09.1991,

Julio Cesar Leal Junior

By Jucele

Julio Leal

Janeiro, 07, 2023

2 comentários Adicione o seu

  1. Avatar de jlcleal jlcleal disse:

    Valeu.

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    1. Avatar de Julio Cesar Leal Julio Cesar Leal disse:

      Bom que VC foi ao Niver da Juliah! Beijo, boa semana! Furacão vem aí!

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