PREPARAÇÃO DO GOLEIRO
Dada a especificidade da função, a partir da própria Lei do Jogo que, em 1871, criou o Goleiro, a quem era dada a oportunidade de usar as mãos para pegar a bola, o trabalho de preparação passou por duas fases. Primeiro, cabia aos preparadores físicos, ou aos auxiliares técnicos, o treinamento dos goleiros. Depois, cerca de 25 (vinte e cinco) anos atrás, passou a ser executado por assistentes do Treinador, especializados em treinamento de goleiros, o que tem proporcionado grande impulso no desenvolvimento do nível técnico dos nossos Goleiros, colocando-os em níveis mais próximos do patamar dos sul-americanos e dos europeus, de maior destaque.
A Preparação do Goleiro deve englobar práticas com e sem o restante do elenco e seguir as normas da Preparação Geral, quanto às estratégias e fases.
Deve considerar os seguintes aspectos:
– Físico;
– Técnico;
– Tático;
– Psicológico e suas particularidades.
Já passada a época de tornarem-se goleiros só os desprovidos de qualidades técnicas para jogar na linha, ou os gordinhos. Hoje os requisitos para tornar-se bom goleiro são sobejamente conhecidos, respeitados e seguidos, fazendo que desde meninos vão para o “GOL” os mais capacitados a evoluir na posição, os que tenham vocação nata.
Treinamento Técnico:
– Posicionamento básico e fundamental: no centro da linha de gol, pernas ligeiramente afastadas, semiflexionadas, nas pontas dos pés, com brevíssimos saltos, ou passadas laterais, ou alternando pé direito e esquerdo no chão, que possibilitam partida imediata quando solicitado a intervir;
– Angulação: para as bolas de frente, a linha de gol deve ser dividida em duas partes iguais de 3,66 m. À medida que a bola com o adversário se movimenta para os lados, o goleiro responde com simultânea movimentação, colocando-se sempre de frente para a bola, e no meio da do espaço da reduzida linha de gol, que se forma com a imaginária transferência da baliza distal (aquela oposta a de onde está a bola), tão menor para defender quanto mais próxima fica a bola da linha de fundo. Em cima da linha de gol, ou um pouco avançado sobre a bissetriz do ângulo formado pelo triângulo – bola, poste proximal, e poste imaginário (transferido na angulação); é a posição ideal do goleiro;
SLIDE COM OS ÂNGULOS DE ACORDO COM A BOLA – NÃO INCLUSOS
– Pegada: fundamento técnico do goleiro, no qual a bola é agarrada com ambas as mãos ou, às vezes, com apenas uma.
Alta: a pegada que o goleiro efetua nas bolas acima da altura da cabeça, com os pés no chão ou após saltar para cima. As mãos um pouco afastadas, dedos semiflexionados, polegares por trás da bola para receberem o maior impacto, por serem os dedos mais fortes, apoiados pelos indicadores que, com os polegares, quase formam um triângulo de contenção, pelas palmas das mãos e com a ajuda de todos os demais dedos das duas mãos para segurar definitivamente a bola. Os cotovelos não devem estar demasiadamente afastados no momento da recepção, dando estabilidade aos braços e mãos.
A pegada alta com uma das mãos (Ubirajara Mota) usa a palma da mão como anteparo e os dedos funcionam como garras no momento do contato com a bola. Fundamento para aqueles que possuem mãos e dedos grandes.
Média: a pegada que o goleiro efetua com as bolas entre a altura da cabeça e o peito. Mesmos gestos que na pegada alta, porém com os braços mais baixos;
Encaixada: a pegada para bolas na altura da cintura, que se executa com as mãos e antebraços servindo de trilhos que conduzem a bola ao peito, amparado lateralmente pelos braços, momento em que antebraços e mãos embolsam a bola.
Antigamente, os goleiros deixavam a bola bater no peito ou na barriga e fechavam os braços por trás dela encaixando–a .
Baixa: para bolas rasteiras, a pegada que o goleiro efetua flexionando o joelho da perna de apoio, jogando a outra perna para trás e para o lado sem deixar espaço entre as pernas, evitando que a bola passe; inclina o tronco à frente e enfia por baixo da bola as mãos e os antebraços, que servem de trilhos da bola até o abdômen, momento em que mãos e braços embolsam a bola, podendo o goleiro manter-se de pé ou deixar-se cair à frente.
Ao lado : Altas, Médias, e Baixas; pegadas executadas após o goleiro deslocar-se lateralmente, para pôr outra parte do corpo, além das mãos, atrás da bola, dando total segurança à pegada;
Espalmada com salto: o fundamento executado que exige do goleiro saltar para um dos lados ou para trás, sem possibilidades de agarrar firme a bola, sendo mais seguro a espalmada, desvio da bola com a palma das mãos, ou com a ponta dos dedos, preferencialmente para córner ou para o lado da baliza;
Rolamento: ação a que se impõe o goleiro para executar uma defesa, precisando rolar sobre ombros e costas, para a frente ou para trás, com a bola agarrada, ou antes da defesa;
Passada lateral: ação do goleiro que compreende a movimentação de uma perna para o lado, como uma passada, seguida pelo acompanhamento da outra perna, sucessivamente, de acordo com o número de passadas necessárias para fazer a defesa, ou antes de um salto para o lado e para o alto(ponte);
Reposição:
Com os pés: em forma de passe, preferencialmente para um companheiro colocado ao lado da área, ou um passe longo à frente e ao lado no espaço vazio onde um companheiro possa receber a bola; tanto nas bolas em movimento, atrasadas ou não, quanto as defendidas com as mãos, que podem ter grande precisão (Andrada, goleiro argentino do Vasco que, levou o milésimo gol de Pelé).
Tiro-de-meta: reposição da bola que ultrapassou toda a linha de fundo por fora da baliza, devendo ser um passe curto ao lado, ou longo à frente mas ao lado, para tirar a vantagem do defensor central adversário. Deve ser treinado o tiro longo por inexistir impedimento do atacante neste tipo de reposição;
Com as mãos: reposição para bolas em jogo, com uma ou ambas as mãos, que o treinamento pode levar a passes longos para além do meio do campo, passíveis de grande precisão;
Saída do gol:
Bolas cruzadas: são as ações do goleiro para interceptar as bolas altas cruzando a área. Devem ser agarradas com ambas as mãos, quando possível, e no ponto mais alto, onde nenhum atacante possa alcançar. Comum a elevação do joelho para proteção e equilíbrio;
Contra o atacante com a bola: são as ações do goleiro para fechar o ângulo e impedir que o atacante com a bola consiga seu intento. Para tirar a bola do adversário, pode–se utilizar os pés ou as mãos, nesse caso, para em manobra perigosa agarrar a bola dentro da área. Esta defesa tanto importa no risco de contusão para o goleiro, quanto, hoje em dia, com a nova legislação, ocasionar o pênalti e a expulsão do arqueiro;
Socos:
Com uma das mãos: ação executada pelo goleiro com uma das mãos fechada, golpeando a bola com as falanges proximais dos dedos da mão, com a finalidade de socar a bola para a frente, para o lado e para cima;
Com ambas as mãos: ação executada pelo goleiro com ambas as mãos fechadas, encostadas pelas falanges mediais, golpeando a bola com as falanges proximais dos dedos das mãos, com a finalidade de socar a bola para a frente, para o lado e para cima;
Cabeceios e Rebatidas:
Os goleiros modernos devem ser preparados para atuar cabeceando e rebatendo a bola.
Orientação dentro do ponto de vista tático:
– Coberturas: o goleiro coloca-se em posição privilegiada para orientar a defesa quanto ao melhor posicionamento e às necessárias coberturas. Antevendo o próximo passo e orientando nominalmente os companheiros, pode-se obter grandes vantagens e evitar muitos perigos à sua cidadela. Ele próprio deve, eventualmente, por atento e bem colocado, realizar as coberturas dos zagueiros;
– Líbero: denominação dada ao jogador de defesa que joga livre, por trás ou à frente da zaga, com a finalidade de cobrir seus companheiros vencidos, bem como dar saída à bola com qualidade, trabalhando até como armador no meio-campo. Sob algumas circunstâncias, pode o goleiro funcionar como líbero, por trás da zaga, para possibilitar a marcação pelos zagueiros, sem sobra, o que aumenta a quantidade de jogadores de linha envolvidos na tomada da bola, com igual número ao dos adversários. A função de líbero pelo goleiro deve ter mais o caráter de cobertura. Entretanto, são conhecidos goleiros capazes de, ao desarmarem, saírem para o jogo com qualidade, fazendo assistências, inclusive marcando gols;
– Treinar na linha: deve o goleiro treinar regularmente na linha, executando diversas funções, para melhorar sua qualidade técnica para o jogo, bem como aumentar sua visão tática e cultura futebolística;
– Armação de barreira: a barreira, que não figura na regra de Futebol, mas é utilizada regularmente, é a colocação de diversos jogadores do time que cometeu a falta, a 9,15 m da bola, entre ela e sua baliza.
Podem ser considerados 3 (três) tipos de barreira:
- A que protege o lado da baliza onde a bola se encontra, o lado mais curto, colocando-se o goleiro, no outro lado, geralmente, a cerca de 1 (um) metro do poste, portanto, a 6,32 m do outro poste. É a barreira mais comum, desde há muito. Incontáveis são os gols consignados de falta por bons e maus batedores, pois, se a bola for chutada no ângulo superior do canto coberto pela barreira, nem que o goleiro seja um pássaro, uma bala de revólver ou o Super-homem logrará defendê-la. Em saindo antes do seu canto, para chegar mais rápido ao canto oposto, enfrentando especialistas, estes jogam a bola onde o goleiro estava, no contrapé. É gol do mesmo jeito!
– A que protege o canto oposto ao em que a bola se encontra, o canto mais distante para a bola, defendendo o goleiro o canto do trajeto mais curto, posicionando-se a cerca de 1 m do poste, e 6,32 do outro. Menos comum do que os outros tipos de barreira. O fato de os batedores, em geral, treinarem pouco a cobrança de penalidades que peçam esse tipo de barreira e de insinuar ao cobrador um chute forte no canto do goleiro, em trajetória livre, ou em curva dirigida ao ângulo mais distante, dá um pouco mais de chances de defesa ao goleiro. Vêem-se muitos gols assim, também;
– A que dividida ao meio em duas minibarreiras, bloqueia os dois cantos da baliza, proporcionando ao goleiro ficar no meio do gol, como de praxe e eqüidistante dos dois postes, a 3,66 m, aumentando suas chances de defesa. Além disso, o fator surpresa ajuda, pois raramente os cobradores de falta ensaiam ou executam a cobrança diante desta formação. De qualquer forma, há pontos contrários: são duas minibarreiras a serem armadas, portanto, despendendo mais tempo. Outro, que o adversário pode colocar um ou dois jogadores entre as duas barreirinhas, cobrindo a visão da bola, além de sair no momento do chute, abrindo um espaço perigoso. Mas esta dificuldade também ocorre com as outras armações. Certamente, o percentual de gols consignados em cobranças de faltas cairá muito quando os goleiros passarem a formar esse tipo de barreira, quando tiverem a coragem para assumir a responsabilidade de gols sofridos com esta armação, creditados, quase sempre, à qualidade dos cobradores.
- QUINZE EXERCÍCIOS FUNDAMENTAIS: pegada normal; encaixada; pegada baixa; baixa nos cantos (passadas laterais); alta nos cantos (passadas laterais); defesa com saltos rasteiros; pontes; salto após corrida para trás; soco; fechamentos diversos de ângulos; jogo aéreo; reposições com os pés e mãos; sair jogando; técnica de jogador; encaixada por trás (Raducano), pegada com uma das mãos.
Esses exercícios básicos devem ser trabalhados de forma metódica, em séries de 10 a 20 repetições, de acordo com a fase geral do treinamento, as condições atléticas do goleiro e o dia da semana em relação ao jogo. Quanto mais perto do jogo, tanto menor o número de repetições, para não afetar o desempenho. Hoje em dia, o goleiro pode treinar, inclusive no dia do jogo, principalmente em jogos noturnos.
Deve-se treinar um ou mais jogadores de linha para enfrentar eventualidades ao longo da competição. Ao menos, identificar os mais qualificados para ocupar a posição da camisa número 1 (um), em casos emergenciais. Sabe-se que Pelé o “Rei” absoluto da camisa 10 atuou, e até bem, como goleiro.
Sempre que possível, o goleiro deve treinar cobrança de faltas e pênaltis, menos com a finalidade de vir a ser o cobrador oficial que hoje em dia, virou modismo. Ante a qualidade dos goleiros Higuita, Chilavert e Rogério, principalmente para que o goleiro, colocando-se do outro lado, obtenha dados importantes que podem trazer benefícios para sua atuação frente àquelas situações.
Regularmente, treina-se o goleiro nas posições de linha para desenvolver nele qualidades extras, inclusive a finalização.
Material: colchões, aros, estacas, cones, barreiras, coletes, cordas, cordas elásticas, bolas medicinais, caixas de areia, plintos, barreirinhas, barreiras, forcas, bancos, paredes, etc.