CAPÍTULO V
DO CALENDÁRIO
Por falar em criatividade, vale abordar a questão calendário, tendão-de-Aquiles do nosso Futebol, alvo permanente de muita discussão e de severas críticas.
Teceremos, então, algumas considerações que julgamos de valia para os responsáveis por sua elaboração, com a devida vênia.
O Calendário deve ser uno, de nível nacional, embora respeitando as características regionais num país de dimensões continentais como o nosso. Deve proporcionar às Federações, Ligas, Clubes, e Profissionais de Futebol (Atletas Profissionais, Treinadores Profissionais, Professores de Educação Física, Médicos, Psicólogos, Massagistas, Fisioterapeutas, Roupeiros, enfim, a todos envolvidos) a oportunidade de trabalho por todo o ano, sendo 11 (onze) de trabalho efetivo e 1 (um) de férias.
Deve levar em conta a necessidade de 1 (um) mês de preparação antes da primeira partida oficial. Neste particular, as duas últimas semanas podem ser utilizadas como de preparativos finais, com jogos amistosos e torneios.
Sugerível pensar na possibilidade de alteração no Calendário atual, que prevê a temporada de 16 (dezesseis) de janeiro a 15 (quinze) de dezembro, e férias de 16 (dezesseis) de dezembro a 15 (quinze) de janeiro. De cogitar que nosso calendário se amolde ao da FIFA e da maioria das Confederações, principalmente as européias, iniciando em agosto e terminando em junho, com o recesso para férias em julho, e pequena paralisação para as Festas de Fim-de-Ano, entre 23 (vinte e três) de dezembro e 02 (dois) de janeiro.
Um calendário todo novo, tendo como espelho a temporada européia, por modo que não haja jogos nas estações mais quentes, principalmente no verão e nas férias escolares. Deveria ser debatido em nível nacional, considerando que as férias funcionais passariam a ser no inverno (julho), mas haveria jogo no alto-verão (dezembro, janeiro e fevereiro), com possível prejuízo para os Estados mais quentes do Norte e Nordeste.
A ser avaliado, também, o possível prejuízo que poderia advir a cada 4 (quatro) anos, quando da disputa da Copa do Mundo. Neste caso, em junho, quando a temporada terminasse, os jogadores estariam encerrando um macrociclo de treinamento, já tendo alcançado o apogeu, precisando do repouso da fase transitória, o que viria a se chocar com a necessidade de treinamento de alto nível para aquela que é a mais importante de todas as competições.
Dentro das características do calendário que temos utilizado até hoje, conseguimos significativos resultados, conquistando por 4 (quatro) vezes (58, 62, 70 e 94) o título máximo na categoria principal, além de 2 (dois) vice-campeonatos(50 e 98), 1 terceiro ( ), 1 (um) quarto lugar (74 ) e, por 3 (três) vezes, o título na categoria Under 20, para jogadores com menos de 20 (vinte) anos (83, 85 e 93), mais 1 (um) título U.17 (97), além de vice-campeonatos nessas categorias de jovens, e nos Jogos Olímpicos.
Nos moldes atuais, quando da realização das Copas do Mundo, nossos jogadores costumam estar no meio da temporada e, portanto, da preparação, o que lhes proporciona a oportunidade, em sendo treinados e homogeneizados os níveis de condicionamento, de alcançar o apogeu no momento certo da disputa, podendo toda a preparação ser forçada, ao passo que para aqueles (europeus entre eles) que já atingiram o ápice dentro da temporada, são reduzidas as possibilidades de atingir novamente o seu máximo.
Na categoria principal, já tivemos problemas nesse sentido, quando vários atletas atuavam no exterior, apresentando-se para a Seleção em más condições atléticas (diz–se, no bagaço).
Pôde-se perceber a importância da competição no meio do ano, quando da disputa do sul-americano de Medelin, Colômbia, em agosto de 1992, classificatório para o Mundial de 1993 na Austrália, na classe U.20. Os atletas apresentaram-se 1 (um) mês antes da competição e quando das avaliações por testes, todos se encontravam em bom nível de preparação, cabendo no plano físico-técnico-tático somente homogeneizá-los para atingirem a melhor forma no momento certo da competição. Pudemos, então, investir mais no trabalho técnico e tático.
Ao contrário, em janeiro de 1993, quando classificados, recebidos os atletas após cerca de 1 (um) mês de férias (dezembro), eles se apresentaram, de forma geral, muito mal, sob todos os aspectos. A preparação física mereceu prioridade. Tanto melhor que tivemos 42 (quarenta e dois) dias de preparação antes da Copa U.20, mas vindo de uma fase transitória de 30 (trinta) dias ou mais, quando os atletas repousaram. Teria sido pior, certamente, se a competição fosse em janeiro, pois a preparação iniciar-se-ia antes da recuperação completa.
Mantida a temporada atual, faz-se necessária uma paralisação de duas semanas no meio do ano, entre os campeonatos Estaduais ou Regionais (primeiro semestre) e o Nacional (segundo semestre), como forma de recondicionamento de jogadores e times, transações entre clubes com tempo mínimo para adaptação dos novos atletas e de jogos amistosos ou participação em torneios nacionais ou internacionais pelos clubes de maior renome, que tradicionalmente já participam, engrandecendo aqueles torneios e auferindo prestígio para o Futebol brasileiro.
O que vale é a qualidade do “show”, do espetáculo, e não a quantidade de jogos e a duração da competição.
Nos 11 (onze) meses de atividade, divididos em duas partes (primeiro e segundo semestres), disputar-se-iam os Campeonatos Estaduais ou Regionais (em uma, duas ou três Divisões), com acesso e descenso, bem como sendo classificatórios para o Campeonato Nacional de Primeira Divisão. Este, de âmbito geral, com no máximo 20 (vinte) participantes e 16 (dezesseis) no mínimo; de Segunda Divisão (regionalizado), com cerca de 32 (trinta e dois) Clubes, e de Terceira (também regionalizado), com tantos participantes quantos necessários para absorver os classificados nos estaduais. Isto permitiria empregar profissionais do Futebol permanentemente e melhoraria o nível técnico do Futebol tupiniquim, em razão do maior tempo de treinamento e competição, beneficiando a todos os envolvidos na atividade, em todos os níveis.
Entre o primeiro e o segundo turnos, poderia haver uma Copa do Campeonato, com turno e returno, com a participação dos 4 (quatro) primeiros colocados. O mesmo poderia acontecer com os 4 (quatro) primeiros do segundo turno, cabendo, ainda, uma decisão entre os vencedores de cada turno, se vencido por clubes diferentes.
Injusto, irracional e desumano, no mais estrito sentido, o que ocorre atualmente, no Futebol brasileiro. Profissionais desempregados ou sem treinar por longos meses por falta de competições, quando muito, curtas e deficitárias, acarretando sérios problemas sociais, a par, especificamente da diminuição do potencial técnico de todos.
Calendário adequado ao principal deve ser criado para as categorias de Base, com planejamento de nível nacional, utilizando-se o ano por inteiro, a fim de proporcionar emprego fixo, oportunidades de maior aperfeiçoamento na profissão e, aos atletas, especialmente, muito melhor condicionamento físico-técnico-tático-psicológico, elevando como um todo, o nível de qualidade.
Os jogos dos Campeonatos Estaduais, Regionais e Nacionais devem realizar-se somente nos finais de semana (aos sábados e domingos). Por campeonato entende-se a competição donde sairá um campeão, mas com a característica de todas as equipes se enfrentarem em turno e returno, saindo vencedora e realmente campeã, aquela que, após confrontar-se com todos os adversários, em casa e fora, houver somado o maior número de pontos. Os meios-de-semana, utilizar-se-iam para jogos de Copas, em sistema eliminatório simples, um jogo em casa, outro fora (“Home and Away”), permanecendo para as fases seguintes da competição as equipes vencedoras. Ainda assim, é recomendável que, após um meio de semana com jogos pela Copa, se permita um livre, para efetivo trabalho de divulgação pelos meios de comunicação, principalmente de treinamento e aperfeiçoamento dos Atletas e da equipe. Durante o Campeonato Brasileiro, as copas de Clubes de 1ª, 2ª e 3ª divisões nacionais. Durante o Estadual, as Copas com a participação dos Clubes de 1ª, 2ª e 3ª divisões do Estado. Possível, ainda, a realização de Copas do Campeonato, com os quatro primeiros colocados em cada turno de campeonato, com grande motivação e oportunidade de ganhos financeiros para as 4 (quatro) melhores equipes de cada fase do campeonato.
Analise-se ainda a adequação das datas de acordo com o Calendário de longo curso da Confederação Sul-americana e da FIFA, intercedendo junto a elas quando sua programação for passível de adequação aos nossos interesses, sem prejuízo dos demais, naturalmente.
OBSERVAÇÃO: NOTE-SE EM 2019 QUE O LIVRO FOI PUBLICADO EM 2000, APO’S O QUE CONQUISTAMOS O PENTA NA CATEGORIA PRINCIPAL EM 2002 E O PRIMEIRO TI’TULO OLÍMPICO EM 2016, NO RIO